A agricultura passou por uma profunda transformação ao longo dos anos. Uma das tendências de crescimento é a agricultura biológica, especificamente nas plantações de olivais superintensivos e olivais de alta densidade. Muito se tem discutido sobre as características positivas e negativas deste método de produção. Existem diversas correntes de pensamento sobre o assunto. Por um lado, o cultivo de oliveiras em modo biológico continua associado a preço elevado e, por outro, os olivais em modo biológico são praticamente desconhecidos dos agricultores, que ignoram as particularidades que este tipo de olival possui. Neste artigo, queremos aproximá-lo de alguns aspectos únicos dos olivais cultivados com este método.
Contrariamente à crença popular, a agricultura biológica não é nova. Os primeiros indícios da agricultura biológica, foram no início do século 20, em resposta ao uso excessivo de herbicidas, pesticidas e outras substâncias químicas presentes nas plantações tradicionais. Entre as décadas de 70 e 80, os Estados Unidos e a Europa tornaram-se nos dois dos mais importantes produtores mundiais da agricultura biológica. Em países como Alemanha, França e Holanda, nasceram empresas de frutas e vegetais especializadas em produção biológica. A evolução do setor ocorreu graças ao apoio da União Europeia através do PAC e Planos Desenvolvimento Regional com o objetivo de transmitir, divulgar e estabelecer a alternativa biológica entre agricultores e consumidores. Em Espanha, ainda há muito a fazer comparativamente a alguns dos nossos homólogos europeus. Mas quais são as características que melhor definem uma plantação biológica? Faremos uma breve revisão dividindo as informações em dois blocos temáticos: fitossanitários e fertilizantes.
Características dos olivais biológicos
- Fitossanitários
– As oliveiras em modo biológico não utilizam produtos sintéticos como acaricidas, herbicidas, fungicidas ou pesticidas. A razão é que estes produtos causam sérios danos à saúde das pessoas. A agricultura biológica, utiliza outros métodos não invasivos ao meio ambiente e/ou à saúde das pessoas.
- Fertilizantes
– Não utilizam fertilizantes convencionais (os quais possuem excesso de nitratos de carbono, além de serem muito solúveis, infiltrando-se no solo até atingir o lençol freático), utilizando como fertilizantes os seguintes materiais:
– Estrume de origem animal como vaca, cavalo, porco e cabra, entre outros.
– Composto caseiro feito com restos de plantas biológicas, como cascas de frutas e vegetais, sementes, ovos, etc.
– Composto industrial para venda em estufas e estabelecimentos semelhantes.
– Húmus de minhoca.
– Resíduos urbanos após eliminação da presença de metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio.
– Fertilizantes feitos com leguminosas porque fornecem nitrogénio e nutrientes essenciais. Habitualmente utilizam-se Ervilhas, favas, trevo e alfafa.
– Algas marinhas.
– Cinzas provenientes de queimadas de arbustos ou ervas.
– Excremento de galinha.
– Fertilizantes de origem mineral utilizando fosfatos naturais, rochas de sílica, magnesita, sulfato de magnésio e cloreto de potássio, entre outros.
Cultivo de oliveiras em modo biológico
Além das características acima descritas, a agricultura biológica é endossada pelo regulamento comunitário da União Europeia. Esta marca de qualidade, presente nas variantes de frutas e vegetais biológicos, é uma garantia adicional para o consumidor no que diz respeito ao cumprimento das formas de plantio, extração, colheita e conservação. De acordo com Regulamento da Comunidade ( CE) 834/2007 do Conselho aprovado em 28 de junho de 2007, a produção biológica é baseada numa série de pilares indiscutíveis, tais como:
– Incrementar a fertilidade do solo e das plantações.
– Evitar a erosão do solo em áreas de cultivo.
– Proibição do uso de produtos químicos sintéticos (fertilizantes, pesticidas, antibióticos).
– Assegurar a viabilidade da agricultura através de um modelo de produção sustentável que garanta os ciclos naturais, preserve a saúde do solo, da água e das plantas.
– Contribuição para alcançar um alto nível de biodiversidade.
– Produzir alimentos de alta qualidade, com as propriedades originais intactas, atendendo às solicitações específicas dos consumidores.
– Utilizar apenas recursos renováveis integrados em sistemas locais para proteger a identidade de cada povo e a sua própria cultura.
– Proteção do meio ambiente estabelecendo um método baseado na mitigação de gases para a camada de ozono.
Apesar dos avanços na tecnologia e na agricultura, vários especialistas em olivicultura afirmam que o futuro dos olivais intensivos e dos olivais de alta densidade reside na produção biológica. O objetivo das cooperativas e produtores não deve estar focado na quantidade de quilos arrecadados por hectare e vendidos, mas sim na qualidade, na sustentabilidade da safra e na imposição de um novo modelo de agricultura muito mais respeitoso com o meio ambiente. Para isso, é necessário a realização de estudos específicos sobre cada zona ou província, de forma a conhecer melhor as características do solo, terreno e a possível rentabilidade da produção, a curto e médio prazo.
Olival biológico superintensivo
As culturas superintensivas adaptam-se perfeitamente à agricultura biológica. É certo que nos primeiros anos é mais complexo manter a plantação sem muitas perdas. Recomenda-se iniciar pelo modo de produção convencional e no terceiro ou quarto ano, alterar para modo biológico. Existem já muitos olivais em sebe biológicos, com muito bons resultados e grande rentabilidade.
Diferentes estudos confirmaram que existem áreas onde os olivais em modo biológico são mais rentáveis do que os convencionais e vice-versa. Em todo o caso, a implementação final do método biológico também depende do agricultor. Na maioria dos casos é evidente a falta de informação sobre a produção em modo biológico, levando a um profundo desconhecimento sobre o assunto. Como resultado, os agricultores ficam relutantes em desenvolver novas formas de produção, as quais podem ser muito benéficas para o consumidor. Para contrariar a tendência, Brígida Jiménez, diretora da IFAPA Cabra (Córdoba) liderou um projeto no qual foram analisadas as qualidades das azeitonas dos olivais biológicos em comparação com os olivais tradicionais. A pesquisa é intitulada “Compostos fenólicos com efeito benéfico à saúde em Azeites Virgens Extra da variedade picual. Estudo comparativo do cultivo biológico da oliveira em relação ao cultivo tradicional” e apresenta uma série de dados conclusivos que são apresentados a seguir:
“Os resultados do estudo confirmam que o azeite virgem proveniente de agricultura biológica tem um valor nutricional superior ao do azeite convencional, visto a quantidade de compostos fenólicos individuais nos azeites analisados, que fornecem maiores benefícios para a saúde (hidroxitirosol, ácidos fenólicos e flavonóides), é significativamente maior nos biológicos do que nos convencionais. ”
Terminamos o nosso artigo com uma última recomendação: Caso pretenda mais informações sobre a agricultura biológica e os métodos de produção aplicados a olivais, olivais intensivos e olivais de alta densidade, recomendamos que acompanhe as suas férias de verão com o livro O Olival Biológico: aprender a observar o olival e compreender os seus processos de vida para o cuidar (Guias para a fertilidade da terra) assinado por Manuel Pajarón Sotomayor. Pode encontrá-lo aqui. Aproveite!